Chovia lá fora. Era possível ouvir as gotas caindo e batendo em cada poste, em cada carro em movimento e em cada guarda-chuva colorido.
Dentro daquela sala, esforçava-se para prender a sua atenção, buscava algo que conseguisse prendê-la e segurá-la forte para que não escapasse. Em vão. Sua mente encontrava-se perdida, viajava por muitos lugares e, ao mesmo tempo, não estando em lugar algum.
Pensava e imaginava o que se passava do lado de fora, naquela tarde cinzenta, fria e triste. Sem poder sair, sem poder ao menos se mover, ouvia os ruídos do lado de fora, que despertavam a sua curiosidade. Lá dentro, só o que ouvia eram palavras perdidas, vazias e sem nenhum sentido sequer.
Seus olhos estavam pesados e aos poucos, distraidamente, iam se fechando. Lutava para mantê-los abertos, mas seu corpo já não lhe obedecia mais, pensava e agia por si próprio, contra sua vontade, sem se importar, sem pedir licença.
Distinguia-se do resto das coisas ao seu redor. Das pessoas mudas, alienadas e com cabrestos que as impediam de ver o mundo ao redor delas. Só o que existia era aquele cubículo: pequeno, abafado e branco.
Sentia sono e uma vontade incontrolável de sair dali. Olhava em volta e só via olhos que não piscavam e sorrisos falsos tatuados nas faces dos outros seres. Não aguentava mais. Olhava no relógio e os ponteiros não se moviam. Olhava o céu, pela janela, e a noite não chegava. Era tarde de chuva. Era noite, o dia todo. E trovejava. Podia ouvir os gritos assustados do lado de fora. Mas sua vontade era sair. A chuva impedia todas aquelas pessoas, mas ainda assim queria sair. Queria correr com os pés molhados, olhar para o céu e ver a chuva cair, sentir o vento gelado e a água molhando os seus cabelos. Queria lavar sua alma, suja, poluída e que pesava cada vez mais.
Sua cabeça doía, latejava. Seu corpo, contraído, desconfortável e inquieto. Não queria mais pensar, não queria mais nada. Aquilo tudo não era o bastante e incomodava sempre e o todo tempo. Mas não tinha coragem suficiente para sair, mesmo que ninguém notasse a sua presença ou sentisse a sua falta. Rendeu-se então a fraqueza de seu corpo e seus olhos, que fecharam-se, então, até a chuva passar.
24-09-2010 – 16:02 hrs.
Ao som de: Try your Best – Kaiser Chiefs
Observando vc, que é meu espelho... ou o espelho sou eu? Não importa...
ResponderExcluirO que quero dizer é que vendo como somos não consigo entender como uma pessoa pode passar sua vida toda assim estagnada... deixando a vida rolar e ser seu misero espectador?