sábado, 9 de julho de 2011

Retorno.

Os ruídos a minha volta se misturam, causando estranheza, confusão e aguçando sentidos adormecidos.



As palavras que há muito se escondiam pedem para sair, calmamente, sem desespero, sem ansiedade, apenas saindo... Uma a uma, lentamente. Sem pretensão, sem coragem e sem motivo.


Com os olhos fechados tudo parece girar e imagino o sol quente lá fora, para curar esse frio incessante e desnecessário.


Sem planos, sem imaginar o futuro. É assim que eu gosto. Sem ter que prever, apenas deixar acontecer e fazer o que me der na telha.


Melodias que me embalam em reflexão, que me inspiram e trazem de volta vontades e desejos esquecidos, deixados pro amanhã.


Uma noite bem dormida, disposição e preguiça ao mesmo tempo. Sem tédio, sem lamentação. É assim que tinha que ser, todos os dias.


Ou não. Conflitos diários valorizam a existência. Nada é tão fácil a ponto de ser desnecessário e facilmente esquecido, e se for, que seja então, sinal que não teve a menor importância. Que sejam livres e deixem espaço para as coisas que realmente importam e que ficam.


E é assim que é. O que tem importância faz bem, de um jeito ou de outro e o que não tem nos abandona e a gente nem percebe. Só o que faz falta realmente importa.


Canções me trazem reflexões discretas, me trazem a liberdade e a leveza de um sonho bom. E me fazem esquecer os dias turbulentos, que por mim não existiriam.


Mas tudo o que existe tem o seu papel. Não cabe a mim escolher, escolheria errado, com certeza. Livre arbítrio casual. Melhor forma de não meter os pés pelas mãos.


Que o sol lá fora aqueça esse inverno solitário.

sábado, 9 de abril de 2011

Liberdade.



Um pássaro acostumado a voar não se põe em gaiola, que murcha. A respiração cessa e ele não canta mais.



Pássaro de alma livre tem que viver em liberdade, que voar é seu maior prazer. Já dizia Fernão Capelo Gaivota: o pássaro que voa mais alto, enxerga mais. E não é só ver e contemplar, é enxergar também. E ter orgulho de ter chegado onde ninguém mais chegou.


Pássaro livre não gosta de monotonia, quer música constante e que o vento sopre todo o tempo. Quer sentir os raios de sol cegá-lo, o vento a despenteá-lo, quer cansar (que para descansar é preciso estar cansado), quer sentir, quer voar, voar...


Mas de repente, a liberdade traz consigo a solidão, porque nem todos os outros pássaros se dispõem a acompanhá-lo. É preciso muita coragem. E tempo.


Leva tempo para conquistar as melhores coisas que existem. E as melhores coisas duram pouco tempo, talvez para que se queira sempre alcançá-las. Ou talvez seja essa a regra.


Mas quando se é livre não há regras, as coisas duram o tempo que se fizer necessário e tem-se tempo para buscá-las com freqüência. Mas e coragem...


Pássaro que é livre não gosta de monotonia, quer música constante e que o vento sopre todo tempo.


E quer apenas voar, voar, voar...

O som do silêncio.



O som do silêncio é ensurdecedor. Os ruídos do lado de fora. Os ponteiros barulhentos do relógio. E todas as coisas que parecem não se calar.



Não é preciso pronunciar uma palavra sequer. A caneta no papel grita sem parar. “O papel tem mais paciência do que as pessoas.” Ao contrário delas, não finge. Não finge que está ouvindo e repete cada palavra em cada detalhe que existe. Acento, vírgula e ponto final.


O som do silêncio é perturbador. Com o tempo, se pensa ouvir ruídos que não existem. E todos aqueles que parecem ser insignificantes ficam cada vez mais altos.


O som do silêncio é tranqüilizador. Antes ouvir sons que não tem mau humor, TPM, transtorno bipolar e não aborrecem, entre outras coisas mais, do que não poder escolher o que ouvir e ainda ter que agüentar outros ruídos sem permissão.


Eu quero silêncio.


E hoje, é só o que eu quero.

terça-feira, 15 de março de 2011

Coincidência ou Destino ?!?!


Já vou logo avisando ao leitor, que não tente entender, precipitadamente. Algumas coisas são, sim, ditas nas entrelinhas, outras simplesmente são o que são, sem qualquer razão ou explicação. Tudo aqui é puro acaso. Ou destino. Vai da crença de cada um e do entendimento, ou não.





Eu não sei dizer ao certo se todas as coisas que eu penso acontecem mesmo ou se é obra da minha fértil imaginação. Tudo mudou, por fora e por dentro. Sem qualquer arrependimento. Posso sentir em cada fio de cabelo, em cada músculo do meu corpo, em cada pensamento todas essas mudanças.
Algumas vezes eu me pego questionando-me sobre realidade e ilusão. Sobre certeza e incerteza. Seriam todas elas coincidência ou destino?!
Às vezes, acredito que tudo acontece porque tem uma razão e um propósito e que ia mesmo acontecer, de uma maneira ou de outra. Às vezes, acredito que tudo é coincidência e nada é premeditado, muito menos previsto. E confundo-me.
Seriam todos os encontros pelo caminho, todas as conversas mudas, todas as pessoas, tudo, coincidência ou destino?
Tem horas que não acredito nem em um, nem no outro. Algumas coisas simplesmente não se encaixam. Como lembranças, por exemplo. As minhas são, geralmente, muito confusas. Mas as que são claras, são realmente nítidas. Queria poder escolher cada uma delas. Ter um momento na vida, de repente uma vez por ano, em que pudesse filtrar e escolher do que lembrar no ano seguinte. Parece loucura, mas quem não gostaria de escolher afastar tudo aquilo que perturba a mente e o sono, e aproximar o que te traz sorriso e paz?
Algumas lembranças eu ignoro. Finjo que elas não existem, como se pudesse escolher. Outras faço questão de não esquecer e mesmo aquelas que são, aparentemente, indiferentes, aparecem nem que seja pra servir de comparativo.
Comparação. É estranho olhar para trás e avaliar mudanças e associar a sonhos e desejos futuros. É estranho comparar o que já foi com o que já é e pensar em como poderia ter sido.
Não, eu não mudei de assunto. Ainda estou pensando e duvidando se tudo é mesmo coincidência ou destino. E amarrando com lembranças, reflexões, desilusões e sonhos. E nada faz sentido. É loucura tentar entender, eu já disse. Acho que algumas coisas só existem mesmo para confundir e tirar o sentido das outras.
Alguém disse hoje pra mim: "Só me arrependo do que eu não fiz." Não foi bem assim, eu confesso, mas entendi como se fosse. E no fim das contas, é só o que importa mesmo: no que se acredita.
Eu acredito nos dois. Coincidência e destino. Acho que cada um tem sua vez de existir e que quase nunca estão juntos, mas é possível.
Entender tudo isso? Perda de tempo. Algumas coisas tem a desnecessidade de compreensão.



14/03/2011 - 21:47 hrs

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Escolhas.


  
Eu sei. Algumas coisas são difíceis demais de entender ou aceitar. Algumas coisas fogem ao nosso controle e não há nada que se possa fazer.



Fazemos escolhas. E com cada escolha, vem junto uma conseqüência. Como um brinde. Às vezes, esperamos ansiosamente por ele, outras vezes, não era bem do jeito que imaginávamos, e nos decepcionamos. Em seguida, vem uma vontade louca de tentar mais uma vez, pra quem sabe ganhar um brinde melhor, ou então, desistimos e já não queremos mais saber dele. Em ambos os casos, nada anula o fato da escolha que foi feita: tentar ou desistir?


Somos totalmente e eternamente responsáveis pelas escolhas que fazemos. E não é culpa de ninguém se as coisas não saem como planejado, a não ser que queira dar a alguém uma culpa que é sua. Se é sua, faz dela o que bem entender. Vai da consciência de cada um.


A gente passa boa parte da vida ocupando nosso tempo em fazer escolhas, decidir coisas. Eu não tenho certeza se isso é bom ou ruim. É bom poder escolher e pensar ter total controle da situação. Mas é ruim saber que o que acontece depois é fruto e conseqüência dessa escolha que fez.


Algumas coisas fogem ao meu controle. Como, por exemplo, sentimentos. Os meus parecem possuir vida própria. Parecem ser livres e impossíveis de capturar. Fogem, se escondem e aparecem quando querem, me pegando desprevenida sempre que podem. Causam uma confusão tão grande em minha mente, impulsos involuntários e noites mal dormidas.


Decido apenas por transcrevê-los sem muita compreensão. De forma automática e sem premeditação ou planejamento. São como eu disse: livres. Fazem de mim o que querem e me deixam perdida, sem ação. São tantos que nem sobra tempo para reflexão ou entendimento. Tento entendê-los apenas quando se distraem em sua própria confusão. Mas não agora, não com a caneta na mão, que dessa forma é impossível.


O desabafo é constante e extremamente necessário. E nunca tem vírgulas ou ponto final, porque cada palavra, cada frase, é um ensaio para a próxima, que vem quando quer, explicando coisas que antes não tinham explicação e que sempre tem continuação.






20-02-2011


21:03

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lembranças.




É estranho como um pequeno instante, talvez apenas poucos segundos, tem uma facilidade tão grande de recriar um filme todo de um momento, uma vida.


Algumas coisas que acontecem tem uma força tão grande que nem com muita vontade se consegue apagar. E algumas outras são, aparentemente, tão pequenas e insignificantes que tomam um lugar tão pequeno quanto o seu tamanho, e se escondem, de forma quase que imperceptível, a ponto de pensar não se lembrar dela, mas ela está ali, firme e forte, fazendo cócegas ou doendo tanto que nem se pode acreditar nelas.


E como medir o tamanho de uma lembrança ou sua importância?


E como saber qual o seu valor?


Acredito ser impossível contabilizá-las ou mensurá-las ao certo. Nunca conheci alguém que soubesse o tamanho ou a quantidade de suas lembranças.


Chego a conclusão que elas apenas são. Não temos o poder de escolha ou seleção. Nem ao menos controlamos. Assim é também com os pensamentos.


Então, seriam as lembranças brincadeiras pensantes? Seriam frases e imagens premeditadas ou sorteadas? Seriam sonhos reais? Ou os sonhos é que são lembranças de mentira?


Eu não sei. Não entendo a confusão disso tudo. As minhas lembranças são falhas e confusas, como uma TV em dia de chuva. Nem sempre acredito nelas, pois as confundo com meus sonhos, que parecem reais. E não tenho memória suficiente para diferenciá-los. Eles me enganam e me confundem, sempre que podem. Vêm do nada, sem controle, sem disciplina e sem limites.


Meus pensamentos, meus sonhos e minhas lembranças são como um só. Sem diferença. Pois não os escolho, não os controlo e não os entendo, igualmente.


E quando canso, eu que os engano e finjo. Finjo que lembro, finjo que sei e finjo que entendo.


Algumas coisas tem uma complexidade tão grande que se a busca pela compreensão for insistente demais o resultado é a loucura.


Então, eu só penso. Só lembro. Só sonho. Cada um a sua maneira. Como tem que ser. Nem sempre gosto. Nem sempre odeio. Nem sempre choro. Nem sempre sorrio. Cada dia é um ponto de interrogação, um anseio.


E me confundo a ponto de não saber o que é real, o que é sonho e o que é lembrança.


E mais uma vez, finjo.


Somente assisto os filmes que passam depressa na minha mente, acreditando que são reais, quando penso não estar de olhos fechados, dormindo.


Eles passam depressa, sem muita nitidez. Sem rostos, sem definições. Acredito serem lembranças, pois me parecem familiares hoje. Mas nem sempre é assim e minha convicção não é de durar muitos instantes. A maior parte do tempo é dúvida. É confusão. E, confesso, não ter muita paciência para isso. E busco o mais fácil: acreditar, apenas.


Acreditar que tudo é a mesma coisa. E que nada vai fazer sentido. E que nesse caso, a melhor coisa a fazer, é fingir mesmo.










18-02-2011


20:02 hrs.






d ^. ^ b - Death Cabie For Cutie
 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tempo.



Dia após dia imagens se repetiam, sem que ninguém as percebesse. Sem que ninguém desse a devida atenção. Todos os dias não passavam de rituais, que se repetiam, só o que mudava era o tempo ou as estações do ano. As mesmas pessoas, os mesmos trajetos que nunca se modificavam. Assim era sua vida: um conjunto de ritos repetidos e automáticos. Não se pensava para dar um passo, eram as mesmas árvores, o mesmo caminho, os mesmos passos, a mesma estrada e as mesmas pessoas de sempre. Pessoas com destinos entrelaçados de alguma forma, pessoas com muito e nada em comum. Mas o que é comum? O mesmo par de sapatos ou a mesma cor da camisa? A mesma função numa empresa ou a mesma quantidade de filhos? Seria a mesma canção ouvida em um par de fones auriculares e que ninguém mais sabe? Seria o mesmo ar que se respira ou o mesmo resfriado? O mesmo corte de cabelo ou a mesma cor predileta? O que significa comum? O mesmo trajeto repetido todos os dias?



O caminho é um só. É sempre o mesmo. São as mesmas pessoas, são os mesmos ternos engomados, são as mesmas camisas suadas, a mesma cor, o mesmo cheiro, o mesmo número de bancos da praça, a mesma quantidade de assentos. Só o que muda é o tempo. O tempo que cada um tem. E o seu era curto, apressado e sem tempo para perceber o seu cabeleireiro comendo um cachorro quente na barraca da esquina ou a sua faxineira no mesmo vagão do trem. O entregador de pizza caminhando com seu filho no colo ou o carteiro na fila do banco. O tempo não deixava ver o vizinho do padeiro na casa da frente ou o filho do porteiro no jardim do vizinho. Era difícil perceber coisas tão cotidianas. O tempo era curto demais para que prestasse atenção em coisas tão insignificantes. Só o que importava era chegar no horário. No horário para que? Só o que importava era cumprir seu horário. Cumprir com o tempo estipulado.


O tempo. O que é o tempo? É a velocidade em que correm os ponteiros do relógio? São os segundos desperdiçados que se utiliza num copo de água gelada? São os minutos apressados que leva para fazer uma refeição? São as intermináveis horas de insônia? São os números do calendário? O que é o tempo? Ele não sabia. Ele nem sequer tinha tempo para pensar nisso. Haviam coisas muito mais importantes para se preocupar. Como, por exemplo, qual gravata usaria na manhã seguinte. Talvez fosse melhor usar aquela com o nó já feito, para economizar tempo. Ou talvez fosse melhor tomar café no trabalho, para não chegar atrasado e não ter aborrecimentos matinais. O caminho levava apenas alguns minutos, passando por uma praça arborizada, em forma circular, passando por três semáforos e uma faixa de pedestre sem sinalização nenhuma. Mas ele preferia pegar um metrô lotado, sem janelas, sem paisagens, silêncio e corpos quentes lutando por espaço, apenas para economizar alguns minutos, que iam ser utilizados para elaborar um novo relatório, perdido no dia anterior por uma mancha de café, que o manteria acordado por mais tempo.


E pra que tudo isso? Para que o seu ritual diário se repetisse com sucesso, para que o tempo não fosse desperdiçado com coisas sem importância e sim aproveitado, com aquelas que realmente importam, como digitar um relatório, como dormir três horas por dia para que o dia dure mais e se possa ter tempo para uma reunião depois do expediente. Aproveitar o tempo para verificar seus emails e recados, para bajular seu chefe, para engraxar seus sapatos. Coisas sem importância, como olhar o sol pela janela, sentar no banco da praça e ler um bom livro, almoçar sem pressa, beber um copo de água cheio, ou amarrar os sapatos, dormir até tarde no domingo ou passear com o cachorro, levar os filhos na escola ou tomar um café da manhã decente. Isso tudo era perda de tempo, ficava pra depois, pra mais tarde. Ele não tinha tempo suficiente pra isso. Não tinha tempo para coisas sem muita importância e que ocupasse o tempo que tinha para fazer coisas que realmente importavam. Só o que precisava era de mais uma xícara de café e um pouco mais de tempo.






08/10/2010 21:43 hrs.


Ao som de: Going Nowhere – The Cure

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Estagnação.




Chovia lá fora. Era possível ouvir as gotas caindo e batendo em cada poste, em cada carro em movimento e em cada guarda-chuva colorido.




Dentro daquela sala, esforçava-se para prender a sua atenção, buscava algo que conseguisse prendê-la e segurá-la forte para que não escapasse. Em vão. Sua mente encontrava-se perdida, viajava por muitos lugares e, ao mesmo tempo, não estando em lugar algum.


Pensava e imaginava o que se passava do lado de fora, naquela tarde cinzenta, fria e triste. Sem poder sair, sem poder ao menos se mover, ouvia os ruídos do lado de fora, que despertavam a sua curiosidade. Lá dentro, só o que ouvia eram palavras perdidas, vazias e sem nenhum sentido sequer.


Seus olhos estavam pesados e aos poucos, distraidamente, iam se fechando. Lutava para mantê-los abertos, mas seu corpo já não lhe obedecia mais, pensava e agia por si próprio, contra sua vontade, sem se importar, sem pedir licença.


Distinguia-se do resto das coisas ao seu redor. Das pessoas mudas, alienadas e com cabrestos que as impediam de ver o mundo ao redor delas. Só o que existia era aquele cubículo: pequeno, abafado e branco.


Sentia sono e uma vontade incontrolável de sair dali. Olhava em volta e só via olhos que não piscavam e sorrisos falsos tatuados nas faces dos outros seres. Não aguentava mais. Olhava no relógio e os ponteiros não se moviam. Olhava o céu, pela janela, e a noite não chegava. Era tarde de chuva. Era noite, o dia todo. E trovejava. Podia ouvir os gritos assustados do lado de fora. Mas sua vontade era sair. A chuva impedia todas aquelas pessoas, mas ainda assim queria sair. Queria correr com os pés molhados, olhar para o céu e ver a chuva cair, sentir o vento gelado e a água molhando os seus cabelos. Queria lavar sua alma, suja, poluída e que pesava cada vez mais.


Sua cabeça doía, latejava. Seu corpo, contraído, desconfortável e inquieto. Não queria mais pensar, não queria mais nada. Aquilo tudo não era o bastante e incomodava sempre e o todo tempo. Mas não tinha coragem suficiente para sair, mesmo que ninguém notasse a sua presença ou sentisse a sua falta. Rendeu-se então a fraqueza de seu corpo e seus olhos, que fecharam-se, então, até a chuva passar.






24-09-2010 – 16:02 hrs.


Ao som de: Try your Best – Kaiser Chiefs

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Inverno.



O futuro é incerto. Ele não existe. A sua história ela mesma fazia. E traçava, lentamente numa simples folha de papel. Reciclado. Recriando todas as palavras e letras que sabia. Nada fazia sentido e tudo era incerteza.



Mais um inverno se aproximava e ela esperava o verão chegar. O vento era gelado e trazia certa melancolia que inibia qualquer vontade de levantar da cama e largar aqueles pensamentos sem sentido, atormentados por sonhos vagos e idéias alheias, que lhe perturbavam o sono e não desgrudavam de jeito nenhum. Não gostava do frio e daqueles pensamentos associados a ele. Mas nada explica sentimentos ou lhes dá algum significado ou consideração.


O seu tormento era existir. Isso não lhe bastava e a atormentava dia, noite e madrugada, naquela cama gelada. Não se contentava com uma vida qualquer, sem sentido algum, sem expectativas e perseguida por coisas que queria esquecer.


Era inverno de novo. Ela preferia a primavera. Nem frio demais, nem calor demais. Tudo parece (re) nascer. O inverno apaga a esperança cultivada no outono e nada mais resta, até que uma nova vida surge na próxima estação, e sobrevive por todo verão, na esperança de durar até o outono acabar. Mas isso nunca acontece. A esperança acaba. E é um ciclo infinito de desilusões, esperando outra estação.


E era assim com ela, todo o tempo. Criando expectativas para que crescessem e virassem desilusões. Nada renascia, era tudo sempre igual e do mesmo jeito. Era sempre a mesma coisa, o mesmo ciclo. E a culpa era dela. Somente dela. E de mais ninguém. É mais fácil quando se tem a quem culpar, livra-se de uma frustração inevitável e a consciência não pesa. Mas e quando não depende de mais ninguém? E quando a decisão que toma é o que vai decidir todo o resto?


Hoje começa o inverno e o futuro não existe. Tanto faz. Já não faz mais diferença, muito menos sentido algum. É inverno novamente e tudo é incerteza.


















05-09-2010


Ao som de: Stardust Galaxies – The Parlotones

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Prisão.

Andava de um lado para o outro de seu quarto. Enlouquecia. Trancada naquele cubículo, sem nada poder fazer. Não que não pudesse realmente, mas não havia nada a se fazer naquele momento.



Buscava distrações momentâneas e evitava olhar no relógio, que insistia em fazer um barulho altíssimo a cada passo de seus ponteiros.


Já não agüentava mais aquela agonia, aquele tédio e sua sensação de impotência. Sentia-se incapaz. Incapaz de sair dali. Incapaz de decidir se levantar da cama. Incapaz de decidir um rumo para sua vida.


A sua vida era sua. E depois de muito esforço para conquistá-la, o que fazer com ela?


Uma vida como aquela não tinha a mínima serventia. De nada adiantava viver somente pra si. Mas tinha feito sua escolha e era tarde demais para voltar no tempo.


Andava de um lado para o outro, naquele quarto. Pensava em milhares de coisas a serem feitas. E em milhares de coisas as quais havia deixado para trás. As quais havia deixado escapar.


Imagens lhe cercava, trazendo à tona o filme de sua vida, como se estivesse sonhando sem ter dormido.


Os ponteiros do relógio pareciam não se mover. E todos os dias da sua vida eram todos iguais. E a culpa era só sua. Por nada ter feito, nada fazer e deixar escapar tudo aquilo que podia mudar sua vida.


Olhava pela janela, olhava ao seu redor e caminhava pelo quarto, cheio de recordações do passado, cheio de silêncio e do vazio que lhe tomava conta.


Pensava em sair. Mas havia pelo menos dez motivos que a impedia que o fizesse.


Pensava sempre no amanhã e de nada adiantava, pois o amanhã era sempre o hoje deixado pra depois e esquecido.


De nada adiantava pensar. Era preciso mais do que lamentos e vontades. Era preciso muito mais. Muito mais do que mover os ponteiros lentos do relógio.


Andava de um lado para o outro de seu quarto e pela janela, via a vida passar.










28-08-10


Ao som de: For Martha – Smashing Pumpkins