segunda-feira, 23 de maio de 2016

CAPÍTULO QUATRO – (da necessidade de uma carta que nunca foi escrita)



Eu odeio você. Odeio tudo aquilo que eu podia ter sido e não fui por sua causa. Odeio a sua presença constante na minha vida, o vazio imenso que você deixou em todos os cômodos da minha casa, o buraco que ficou no meu peito e que curativo nenhum é capaz de tapar.
Odeio a necessidade que eu tenho de receber notícias tuas, odeio a minha incapacidade de não pensar em você. Odeio cada centímetro de sentimento que ficou grudado aqui, na minha pele, no meu olhar. Odeio o seu cheiro que ficou cravado em mim. Odeio as marcas tatuadas em meu corpo que não me deixam te esquecer. Odeio lasanha. Odeio tapioca. Odeio as bordas de pizza. Odeio as canções de amor e de derrota que me aparecem como sugestões no youtube.
Odeio tudo aquilo que ficou de você e que não consigo mais arrancar de mim.
Precisava te dizer o quanto te odeio. O quanto te considero egoísta, por ter pensado só na sua felicidade e estar pouco se fudendo pra mim, se eu ficaria bem com a tua distância, se eu sobreviveria ao teu abandono, se eu seria capaz de me cuidar sozinho, se eu me lembraria de tomar todos os meus remédios ou se eu conseguiria acordar no horário certo por conta própria. Odeio a ideia de que pudesse depender de você, seja na forma que fosse. Não consigo admitir a minha total fragilidade em te pertencer por inteiro, em sentir sua falta a todo instante... Em te ver em cada canto desta casa, dessa cidade... Em cada suspiro do meu pensamento.
Fiquei cego. Já não consigo enxergar o outro lado da moeda, estou obcecado pelo meu sentimento pertencente a tua imagem e a tudo que ela representa. Já não me satisfaço com minhas alegrias momentâneas. Já não me tranquilizo com meus sorrisos ocasionais. Já não esboço reação positiva a demonstrações de afeto.  Tudo que me toma é sobre você, meus pensamentos todos te associam de alguma forma e te buscam na expectativa de te ter novamente. E já não enxergo nada além dos buracos causados por você e a sua insistente mania de me abandonar. Uma, duas, três... Ou quantas vezes se fizerem necessárias. Ou quantas vezes você precisar de um tempo pra você, pra se encontrar, pra se perder, pra fingir que se importa comigo ou seja lá com quem for... Tudo pra fugir de um destino que é seu... Que é nosso... E que não há fuga que impeça.
E toda vez é isso: Você vai, me deixa em lágrimas não assumidas. Me deixa engasgado com os teus desaforos. Some. Me angustia com a preocupação da tua morte ou qualquer coisa que o valha. E depois volta, como se nada tivesse acontecido, achando que um pedido de desculpas é o suficiente pra apagar todo o mal que me causou e a quem se aproximou de mim neste meio tempo, por consequência. A quem me encontrou derrotado e perdido, fraco e sem rumo, sem direção, sem palavras, só desespero. Um desespero contido, reprimido e ilusoriamente camuflado. Como se um pedido de desculpas anulasse as feridas deixadas por suas palavras e atitudes impensadas, ou pensadas demais unilateralmente. Pensadas demais no seu amor...próprio.
E a cada fuga tua, a culpa era de alguém diferente que não você. Era minha, era pra não destruir, era pra não magoar, era pra dar espaço. Era pra ter espaço. Era pra que eu fosse feliz.
E nessa tentativa de “me fazer feliz” só o que conquistou foi a minha quase morte, dia após dia. Quase um infarto a cada dia que passei longe de você, esperando o seu retorno, esperando as suas certezas voltarem pro lugar, esperando você querer mais um café, querer ocupar novamente o seu espaço na última gaveta, o seu espaço aqui dentro.
Odeio ter que admitir: sinto sua falta. Odeio e não sou capaz de dizer em voz alta. Odeio admitir também qualquer tipo de fragilidade.
Permaneço intacto nas minhas convicções. Ou pelo menos é o que eu disfarço. Mas por dentro sou pura devastação. Não há pilar que se mantenha em pé quando o assunto é você. Quando cogito a possibilidade de você voltar.
E eu sou esperança. E ao mesmo tempo pura covardia. Me saboto a todo instante pra não ter que lidar com tudo aquilo que esperei todo esse tempo. E odeio isso também.
Odeio tudo sobre você. Odeio tudo em mim sobre você. E odeio mais ainda não ter coragem de dizer, muito menos assumir. Muito menos não conseguir deixar de me sentir culpado em sentir tudo isso. Odeio não conseguir guardar rancor das tuas ofensas.

Odeio precisar te dizer o quanto odeio você.
E preciso dizer que te odeio.





terça-feira, 19 de abril de 2016

CAPÍTULO TRÊS - (da continuação de um livro sem sentido)



Eu não sei porque inventei de escrever. Sei menos ainda de onde foi que surgiu a pretensão de que minhas singelas palavras interessassem a quem quer que fosse e pudessem se tornar um manuscrito um dia.
Nada sobre mim pode interessar a quem quer que seja, se nem eu mesmo consigo me interessar por quem eu fui ou sou.
Escrevo mais da necessidade de mim mesmo, de tentar me livrar dos meus pensamentos grudentos, do que da vontade de que alguém realmente leia. Muito pelo contrário, tenho um certo receio de me revelar demais nas minhas palavras, quando meu intuito era deixar tudo trancado numa gaveta, com cadeado, se possível.
Mas eu preciso escrever. Há muito tempo deixou de ser apenas meu ofício para ser a única saída que pode amenizar minhas dores corriqueiras. Aquelas que não consigo tampar com curativos. Aquelas que não consigo procurar ajuda para diagnosticá-las, com medo de estar certo nas minhas evidências. Com medo do antídoto. Com medo do gosto amargo do medicamento que viria a seguir.
Busco, então, de todas as formas que acredito serem possíveis me livrar de todos os sintomas dessa doença que me persegue, dia após dia. Me dói tudo. O corpo todo e além: todo o meu ser. As pequenas coisas que antes tinham cor, hoje já não as enxergo. O sorriso que me espera a noite já não recarrega minhas baterias, gastas e viciadas demais para somente ligar numa tomada por algumas horas.
O prazer das pequenas coisas me foi tirado no mesmo instante em que percebi que não teria mais você por perto. Nem por perto e nem distante. Não te teria mais de jeito algum. Não sei mais seu endereço. Não sei mais seu telefone. Não sei mais que cor de cabelo ou corte usa. Não sei mais reconhecer tudo aquilo que fotografei com meu olhar e que guardei na minha memória.
Chego a duvidar se você realmente existiu ou se o que eu sofro mesmo é de um quadro de esquizofrenia aguda e grave, daquelas que o paciente nem deveria estar vivendo normalmente em sociedade, pois ele não possui certeza alguma, nem sequer da sua própria existência.
Tenho medo de esquecer tudo, todas as lembranças que guardei de você, seu nome, a cor dos seus olhos, os sussurros que estavam guardados ao pé do meu ouvido. Ou pior: tenho medo de que tudo isso não tenha mesmo existido, tenha sido apenas mais um dos meus sonhos malucos, onde eu faço o que eu quero e tudo é como eu gostaria que fosse, mas não é e nem está perto de ser.
Comecei pensando em escrever sobre o amor e olha só onde eu fui parar! Já não sei mais nada, nem sobre o amor, nem sobre a realidade, nem sobre merda nenhuma. Tudo que eu sei é falar no mesmo assunto, o tempo todo, como um disco arranhado numa faixa só: VOCÊ, VOCÊ e VOCÊ.
Estou cansado de me repetir e pensei que escrevendo tudo iria embora, junto com as tuas lembranças, junto com as coisas que você levou, deixando a gaveta de baixo vazia, cheia de espaço pra eu guardar tudo aquilo que queria esquecer de você.
Perco a coragem e ao invés disso, me apego a tudo aquilo que restou, o pouco que ainda tenho, na expectativa de nunca duvidar da sua existência. Reservo tua gaveta, na esperança de que você volte um dia. Não sou capaz de guardar nada que não diga respeito a você lá dentro.
Mas a cada vez que abro, meu peito aperta e uma lágrima quer sair, pois dela sai um ventinho gelado, junto com o cheiro de pó, que é a única coisa real a que consigo sentir: o vazio da tua distância.

Tento, fracassadamente, me curar de uma doença que eu mesmo diagnostiquei e tento medicar. Sem sucesso.  Nada parece funcionar. Eu sou o meu próprio experimento de TENTATIVA DE ESQUECIMENTO DE UM AMOR QUE NÃO VAI VOLTAR.
E ao invés de tomar pílulas de amnésia, eu tomo de saudade. Ao invés de sonos de relaxamento o que eu tenho são madrugadas de insônia, pensando em você, em como você deve estar, o que deve estar fazendo, se casou, se teve filhos, se um dia vai voltar. Ao invés de jogar fora tudo sobre você o que eu faço é ir atrás de tudo que as pessoas possam publicar de notícias suas em redes sociais, para salvar numa pasta com nome falso e oculta em meu computador.  Ao invés de te esquecer, é como se hoje você estivesse ainda mais presente do que nunca.
A minha distância, o meu respeito pelas suas escolhas e minha consciência de que não devo interferir me fere e me arranha, me machuca e me pesa na consciência. Me tomo por covarde e nem sequer o último gole de uísque que me resta pode resolver isso.
A minha vontade era te procurar, dizer tudo que sinto e senti, pedir pra que volte e esqueça tudo que passou. Te dizer que eu sou a melhor escolha que podia fazer. Mas eu não posso. Não posso e estou longe de ser a melhor escolha pra qualquer pessoa que seja.
Sou nocivo a mim mesmo e a quem se aproximar de mim.
Então ao invés de te procurar eu sofro, em segredo, na ingenuidade de que transformar sentimentos em palavras possam resolver todos os problemas do mundo. Na ingenuidade em sua forma mais completa de que as palavras tenham algum sentido, se nem ao menos os meus pensamentos possuem algum. Torno-me repetitivo e humilhadamente fracassado, no propósito de escrever um texto sobre as belezas do amor.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

CAPÍTULO DOIS - ( de um livro que não era pra ter continuação, mas de repente teve)

Eu não sou a pessoa mais infeliz do mundo, muito pelo contrário. Há muita felicidade em mim. E é nisso que eu tenho tentado me agarrar todos os dias. Mas o mais difícil não é reconhecer a felicidade, mas acreditar que eu a mereço.

A felicidade está em todo canto. Em cada pensamento que ultrapassa a minha linha de consciência e invade a minha mente, manifestando-se num olhar distante ao horizonte, perdido... A cada lembrança tua, do teu sorriso tímido e contido, das curvas do teu corpo, fora dos padrões e de uma beleza única... É como uma cena de um filme: um filtro ensolarado, em câmera lenta, um vento leve que faz seu pelos arrepiarem, formando pequenas bolinhas onde encosto minha boca e você suspira, querendo pedir para que eu pare e não pedindo absolutamente nada. Ao fundo, toca uma música que não consigo identificar, mas nós, eu e você, não falamos nada, apenas sei que existem suspiros e olhares, extremamente comprometedores, de um amor não admitido, louco para dizer um “eu te amo”, reticente, na incerteza de ser o momento certo ou não e estragar todo esse clima de romance cinematográfico.

O meu olhar, distante, embaçado, vai tomando consciência e voltando a realidade. Não existe sol da tarde, não existe vento, não existe seu cheiro, muito menos você. Só o que existe é essa sala vazia, fria e empoeirada. Nem ao menos música de fundo eu coloquei, que era pra não correr o risco de me render às tuas lembranças, já que todas as músicas da minha playlist me remetem a você. Tudo que eu queria era apenas me concentrar nas minhas obrigações, mergulhar no trabalho, sério, meticuloso e necessário.

Já não tenho mais criatividade pra dar origem a boas ideias. E menos ainda concentração para apenas executar aquilo que já sei que passou da hora de ser feito. Toda linha de raciocínio que inicio em linha reta, quando menos espero, faz uma curva perigosa que dá numa rua sem saída que é você. Todo pensamento que tenho acaba em você, de alguma forma.

Como você pôde marcar tudo a meu respeito? Todas as cores que já contemplei, todas as canções e sons que já ouvi, todos os cheiros que senti... Tudo, tudo que já tive contato...
Você quase que me parece uma doença, extremamente contagiosa, em que ainda não inventaram vacina, antídoto ou remédio pra aliviar que seja a dor da existência.
Tudo que é seu me persegue, mesmo que você nunca tivesse intenção nenhuma de que isso acontecesse. Muito pelo contrário, acho até que você acreditava que sumindo da minha vida, tudo que é seu ou foi sumiria também, na mesma hora. Mas isso não aconteceu.

Li uma vez que podemos medir o sentimento por alguém não pela presença da pessoa, mas pela ausência, pela falta que ela faz. E não quero admitir. Mas não sei que outra explicação dar a esse sentimento de vazio e destruição que toma conta de mim, todas as horas dos meus dias.

A minha fuga é a solidão, para não ter mesmo que admitir a quem quer que seja tudo aquilo que não quero admitir a mim mesmo. Mas é na minha solidão que me entrego, sem intenção, a tudo aquilo que em consciência tento escapar. É como se estivesse sonhando novamente. Não posso fugir, não posso esconder e não posso negar.

Não ouso pronunciar palavra sequer, com medo de dizer em voz alta e atrair tudo aquilo que esperava que ninguém ouvisse... Que ninguém soubesse... E que nem ao menos existisse.

Às vezes, penso que seria mais fácil se eu não existisse também, que acordasse um dia sem acordar... Que ficasse naqueles sonhos que me perseguem e me perdesse de vez... Mas isso não acontece. Abro os olhos todas as manhãs e sinto o peso do meu corpo me obrigando a voltar a realidade. Tomo um banho demorado na intenção de que, junto com a água corrente, corra também os sentimentos devastadores que são capazes de me derrubar pelo resto do dia.

Fracasso toda vez. Tudo que sou capaz de fazer é fingir um sorriso amarelo, me apoiando na gentileza dos “bom dias” oferecidos aos outros, já que a esperança do meu já se foi há muito tempo. Mas minhas sobrancelhas não negam. Meu olhar, vazio e congelado pela tristeza, permanece perdido e distante, porém tentando disfarçar tudo aquilo que enfrentarei do meu dia.

Sei que a felicidade está aqui, em algum lugar. Mas tudo a que me apego nessa ideia são as tuas lembranças, que teimo em tentar evitar, fracassando toda vez. Visto um sorriso amarelo depois do café da manhã e saio em busca de algum sentido, fazendo força pra esquecer tudo que me lembra você, tentando encontrar forças para seguir mais um dia.

Tenho certeza que a felicidade está em todo lugar. Não há motivos reais para essa tristeza que me toma. E isso faz com que a culpa em sentir tua ausência se transforme numa mochila pesada demais para carregar nas costas todos os dias, ao sair.  Busco a solidão para amenizar, ou ao menos para cair vez ou outra, se o peso for demais para aguentar.

Mas não é possível enganar a si mesmo quando se está sozinho, mas não tenho outra alternativa que não tentar, todos os dias após o café.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

CAPÍTULO UM - (de um livro que nunca terá continuação, mas que ainda faz sentido)


Eu nunca pensei que fosse capaz de falar de amor.
Tantas coisas que eu nunca pensei que passariam pela minha cabeça hoje pesam tanto!
Pesam do tamanho de uma lembrança, daquelas que a gente tenta esquecer e já é tarde demais... Pesam como uma pessoa que insiste, por orgulho ou teimosia, se afastar de nossas vidas, parecendo que nunca vai voltar.
Mas o mundo dá muitas voltas. E rápido demais.
Seria ingenuidade minha, talvez, acreditar ser capaz de ignorar tudo isso e viver em paz. A paz é inalcançável.  
Cheguei a essa conclusão numa madrugada dessas.
Há algum tempo já não as uso mais para dormir.
Estou pensando em desistir. Talvez as madrugadas, sejam lá por quem tenham sido criadas, não tenham sido feitas com esse propósito. Desconfio que nós, seres humanos, carentes e problemáticos, teimamos em ignorar as evidências e tentamos usá-las pra suprir um cansaço que é físico. Fisicamente manifestado pela nossa inquietação mental constante.
E isso cansa. E como cansa!
E eu canso o tempo todo.
Às vezes, imagino que sou capaz de desligar meus pensamentos, só por um instante, só por uma piscada de 3 segundos, que é o máximo possível antes de ser considerado um cochilo. Imagino que quando desligo esses pensamentos tenho a chance de mudá-los de lugar dentro da minha cabeça, como uma cômoda com muitas gavetas, em que, a cada vez, a cada piscada, o pensamento vai descendo de gaveta até ficar na última, a mais difícil de abrir, a que esqueço que existe vez ou outra.
Doce ilusão. Nem ao menos sou capaz de desligar-me dos meus pensamentos e, ainda que fosse, seria ilusão ainda maior pensar que conseguiria evitar a tal gaveta de baixo.
Acho que foi lá que eu guardei o tal do amor, com a minha estúpida ingenuidade, novamente, de tentar esquecê-lo.
Se nem ao menos sou capaz de desligar os meus pensamentos, por 3 segundos que sejam, quem dirá esquecer um amor.
Não a ideia de amor que muitos pregam em felicidades manipuladas socialmente. Não, é de outro amor que eu estou falando.
Um amor que, nos tempos de hoje, sou covarde em admitir. Parece piegas demais!
Em tempos onde o “amor fast food” resplandece no “coração” das pessoas, bate um constrangimento em admitir o amor e as fraquezas que o acompanham. As pessoas se pintam tão mais fortes nisso do eu me vejo capaz.
Não sei onde está o equívoco, se na superficialidade do amor delas ou na intensidade brega do meu.
O meu amor acelera meus batimentos cardíacos e desacelera a minha respiração, cada vez que escuto sua voz, ou cada vez que te leio, direta ou indiretamente, o que hoje é mais comum. Quando eu te vejo, então! Não sei se respiro ou se concentro todas as minhas energias em disfarçar o amor que eu sinto, que parece ser grande demais para qualquer ser humano aguentar. Acho que te sufocaria. Então, sempre tento contê-lo.
Mais uma doce ilusão.
Não pense você que eu o escondo somente por covardia minha não. É também. Mas muito mais pelo medo do sufocamento que posso lhe proporcionar. Por medo da tua (não) correspondência. Pelo teu abandono. Pelas tuas palavras enfáticas e aquelas não ditas que eu li nas entrelinhas, que me fizeram chegar a conclusão de que o amor que eu sinto é mesmo impossível. Ou melhor, somente possível pra mim, nos meus sonhos, na minha imaginação... Nas minhas doces ilusões. Ou naqueles sonhos que escondo de você e não te conto, mas que são recorrentes. Cada vez mais recorrentes.
Nos meus sonhos o dia é nublado e venta muito. Quase não consigo diferenciar dia e noite. O frio é quase congelante. Eu tento te aquecer, mas nunca sou capaz, pois o frio já tomou conta de mim também, por inteiro.
Eu acordo na esperança de que tudo seja só um sonho e que você esteja ao meu lado, encostando o seu corpo quente ao meu e a sua respiração se misturando a minha.
Mas isso nunca acontece. Isso nunca mais vai acontecer.
E meu sonho fica cada vez mais próximo da realidade, como se a cada vez que ele viesse me visitar os planos, sonho e realidade, se invertessem e a minha realidade fosse cada vez mais congelante, o ar cada vez mais rarefeito e o meu coração cada vez mais apertado pela consciência da tua ausência, da tua distância.
Abro a geladeira 1230 vezes, como se procurasse nela as respostas para as minhas perguntas “madrugais”. Não encontro. Nem as respostas, nem nada que me apeteça.
Li que doces liberam substâncias que simulam a felicidade. Comigo não funciona. Acho até que parei de produzir essas tais substâncias. O meu cérebro já não funciona mais como antes. Meus pensamentos parecem mais lerdos. Parecem não sair do lugar. Parecem estar sempre no mesmo lugar. No mesmo pensamento. Sempre em você. Por mais que eu queira evitar.

Você roubou de mim a minha paz. E levou com você todo o meu estoque de substâncias da felicidade, todos os doces que tinham na minha geladeira.



terça-feira, 10 de novembro de 2015

SOBRE A COVARDIA DE AMORES INTERROMPIDOS

Eu não sei até que ponto eu usei o respeito como desculpa para a minha covardia.
Eu não sei quando foi que eu desisti do amor que nunca existiu, além dos meus pensamentos, das minhas ilusões, das minhas "platonices"...
Só me dei conta agora.
Como uma ficha que caiu assim, do nada.
Como pensamentos sutis que assumiram em voz alta, sem que eu percebesse, o tamanho da minha covardia.
O medo do "não". O medo do "sim".
O medo de qualquer tipo de (não)correspondência.
O medo do próprio medo.
Ao olhar uma carta, já com data obsoleta, já com uma grafia em que eu nem me reconheço mais, mas com palavras que ainda fazem tanto sentido!... Outras tantas que já nem sei mais de onde foi que saíram.
Os dias passam... Os meses...Os anos... E ainda não caiu no esquecimento.
O idealização de um amor que talvez nunca tenha existido ainda permanece intacta.
Ou talvez seja somente a lembrança do que a carta dizia, se é que ela ainda existe.
Aguardando o seu destino, o toque suave das mãos que a receberiam, num dia frio de outubro ou novembro.
Se é que um dia chegaria mesmo a ser lida.
Talvez seu destino fosse mesmo nunca chegar ao destino proposto.
E eu guardo na lembrança, ou no lugar mais imperceptível possível, pra fingir que a convardia do envio se transformou em sensatez.
Até que ponto o respeito não interrompe o amor?
Até que ponto a cautela não é desculpa para a falta de coragem em ouvir uma resposta que vai, com certeza, machucar?
A gente prefere o benefício da dúvida em relação ao amor do que a certeza da sua não existência, pois obrigaria o esquecimento.
Impossível.
O que foi amor jamais deixará de ser.
Talvez eu prefira ficar com a certeza de um amor interrompido do que assumir, covardemente, a minha suposta certeza de não correspondência.
Talvez a coragem seja feita de concreto, que endurece quando se leva tempo demais pra sair do lugar.
Ou talvez as lembranças, as ilusões, as "platonices" sejam inevitáveis e essenciais pra construção do indivíduo.
Ou talvez tudo isso seja uma puta desculpa pra justificar a minha covardia mesmo.



domingo, 19 de janeiro de 2014

Noite.




Eu gosto da luz do dia.
Do lado de fora de casa.
Eu gosto de ver a tarde chegar.
E o sol ir se escondendo.
Mas não gosto do sol de meio dia.
Eu gosto do pôr do sol.
Da noite, gosto das luzes amareladas da cidade.
Gosto de ver os pontinhos de luz, distantes.
E ver eles se apagando, quando a madrugada vem surgindo.
Só não gosto do escuro.
Quero sempre estar dormindo quando ele chega por completo.
Mas, às vezes, quem não chega é o sono.
Minha insônia fez parceria com os pernilongos da minha casa.
Ambos me querem com medo, no escuro. E acordada.
Talvez, se eu cansar bastante durante o dia, o sono chega mais rápido, feito criança.
Às vezes funciona. Às vezes, não.
Eu gosto de sentir o vento no meu rosto, no meu cabelo, em um dia que fez bastante sol e no fim da tarde alguém diz: “Ainda bem que não choveu hoje, né?!”
Nesses dias o vento é geladinho e faz a gente esquecer de puxar assunto depois.
Faz com que o silêncio não incomode.
E quando o silêncio não incomoda, as canções soam mais altas, mais gostosas.
Quando o silêncio basta, um olhar é suficiente.
Quando o silêncio existe, o coração pensa alto... depressa.
E quando o coração pensa, ele fala.
Nunca fica calado e parece tagarela demais.
Quando o coração fala, as imagens na janela correm mais depressa também. Ficam sem importância.
E eu, sem jeito.
Pareço me aprisionar, com os olhos parados. Mudo também.
E a percepção do tempo é outra.
As horas passam e eu nem vejo.
As estações passam, eu nem vejo.
A vida passa e...
A noite chega.
O sono não.
Que horas serão agora?

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Solidão.



Estou usando a solidão para me conhecer melhor.
É comum evitar a nossa própria companhia por muito tempo.
Acho que é porque assim não se pode evitar escutar os próprios pensamentos.
E alguns pensamentos a gente não se orgulha, tem vergonha ou quer esquecer.
E sozinho não dá.
Não dá pra evitar ou esquecer.
Só dá pra ouvir.
E é na solidão que a gente se conhece melhor.
Porque é impossível não olhar pra si mesmo.
É impossível não se ouvir, não se ver e não sentir.
E tudo aquilo que a gente teima em evitar ou esconder
A solidão evidencia.
Sem se importar com o motivo da recusa.
Seja por preguiça, por cansaço, medo ou por não saber lidar.
Ficar sozinho é encarar de frente um dedo apontado na cara
E verdades que a gente teima em não escutar.
Porque é sobre a gente mesmo.
E é difícil ter alguém dizendo que a gente está errado.
O ser humano, em geral, odeia estar errado.
E odeia não saber lidar com o Desconhecido.
Daí, o natural é fingir que nada está acontecendo,
Que tudo está sobre controle.
Mas quando se está sozinho
 Não há quem impressionar.
Não há como esconder.
E não há como fingir.
E por isso a gente sofre.
Sofre por estar sozinho sem saber por quê.
E, talvez não seja falta de companhia.
Talvez seja por estar em companhia de si mesmo.
E isso, é incrivelmente difícil.
Ninguém gosta de encarar a si mesmo.
É melhor evitar.
 É melhor...



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Sono perdido



Eu gostaria de ter um botão de ON/OFF na cabeça.
Às vezes eu gostaria de poder desligar meus pensamentos.
Eles nem sempre são confiáveis.
E ninguém devia confiar muito nos próprios pensamentos.
Principalmente se estiver com sono, mesmo que sem dormir.
Principalmente sem dormir.
Dormindo a gente perde a razão.
E ganha inconsciência.
Meio dormindo, meio acordado a gente tem meia razão e meia consciência.
Ainda assim traiçoeira.
E o inconsciente venenoso e consciente racional brigam a noite, a madrugada e a manhã toda.
Não te deixa dormir e te confunde.
 E faz você perder um sono que nunca mais vai achar.
Mas em compensação ganhar algumas rugas, úlceras e dores de cabeça.
De pura preocupação.
Preocupação de coisas sem motivo.
Ou com motivos de sobra.
Mas não faz muita diferença quando não se sabe administrar.
E como acreditar que o todo poderoso cérebro é só um órgão como outro qualquer?!
Nós o alimentamos, sem pensar, até ficar gordinho.
E depois forçamos uma dieta.
E qualquer reeducação alimentar é difícil pra qualquer instância do corpo, não é mesmo?
E a prática leva ao hábito, não é?!
O que fazemos sempre vira costume.
E equilibra as coisas.
Não é?!
Mas por que, então, tem tanta gente alimentando os cérebros malucos durante a noite, com pensamentos nocivos e confusões pensamentares, que a gente sabe, não levam a lugar algum?!
Por que então é tão difícil desapegar daqueles pensamentos que deviam passar depressa?!
Por que então não é possível se anestesiar com o sono e não pensar?!
Por que então a gente pensa, mesmo sem querer pensar?!
E por que então a gente tenta controlar os pensamentos se sabe que não é possível?!
E como se livrar de pensamentos que a gente não quer ter e que incomodam, pinicam e coçam demais?!
A culpa é dos astros mesmo.
Só pode ser.
Mais de uma pessoa essa noite não dormiu, pensando.
Na vida. Em nada. Em trabalho. Em questões existenciais. Em amor.
E como não alimentar um pensamento?!


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A gente tá sempre aprendendo a viver....

A gente tá sempre aprendendo a viver.
Num tem receita de bolo.
Todo dia é uma tentativa de tentar ser melhor...
E é normal não saber...
A gente nunca tem respostas...
Mas eu acredito muito que são as perguntas que nos movem...
E que perguntas você anda se fazendo?
E que perguntas andam me movendo?
Às vezes eu acho que as perguntas que nos movem são pura imaginação.
Não são na real o que a gente precisa olhar de verdade.
E se a gente prestar atenção nas perguntas que a gente nunca tem coragem de fazer?
Do tipo...
Por que?
Do que você tem medo?
O que muda?
E se for assim mesmo?
O que você é capaz de fazer?
Será que a culpa não é sua mesmo?
Será que não é só uma desculpa pra não assumir a culpa?
O que você está sentindo?
Qual é o problema?
Faz sentido pra você?
E mil outras perguntas que só pertencem ao universo particular de cada mente perturbada,
Mas que no fim das contas são sempre as mesmas.
Porque o que é importante, importa a todo mundo.
As mesmas dúvidas, os mesmos medos e inseguranças.
E será que a insegurança não é só o medo de falhar?
Às vezes, acho que a gente acaba colocando a culpa nos outros, por não querer admitir.
Por não querer se culpar.
E às vezes a culpa não é de ninguém mesmo.
Só acontece.
Acho que quando a gente desconfia demais das pessoas, na verdade a gente desconfia da gente mesmo sabe?!
 De tipo "será que eu consigo fazer isso?!"
 Daí a gente meio que culpa o outro, inconscientemente, porque é mais fácil, tipo "eu não faço isso por causa de fulano".
Quando, na verdade, pode ser: “Será que eu vou ser capaz de fazer isso?!”
E o medo de não ser capaz é maior que qualquer outro medo.
E daí a gente começa a criar desculpas pra não admitir,
Coloca no outro uma culpa que é nossa...
Ou, simplesmente, se recusa a ver o que está bem diante dos olhos.
Por medo.
Sentir medo não é ruim.
Assim como qualquer outro sentimento.
Mas o que a gente faz com ele?!
Isso é o que realmente importa.
Ficar quieta, com dúvida é a pior coisa...
Ela corrói o pensamento da gente
Mas certas coisas vão além....
Vão além de uma simples conversa e um ombro amigo...
Só dá pra tentar entender, sorrir e dar um abraço.
E dizer: “Olha, tô contigo!”
Acho que já é alguma coisa.
Às vezes tudo que a gente precisa é saber que tem alguém que pensa do mesmo jeito que a gente, que concorda.
Saber que a gente não tá doido!
E às vezes é só do que a gente precisa pra aguentar as coisas que só a gente mesmo pode aguentar...
Sem receita de bolo.
Sem conselho ao pé da letra.
Sem desespero.
As coisas vão se acertando, de um jeito ou de outro...
Mas...

“Aaaahhh, se as pessoas viessem com manual de intrução!”

Aaaahhh, se a vida viesse com manual de instrução...


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fingindo entender...

Silêncio.
Silêncio nos lábios.
Mas o pensamento grita.
Como de costume.
E não deixa em paz, não deixa dormir, não pára de sonhar.
Como se costume.
Música de fundo. Bem calminha.
Com algumas lembranças, às vezes.
Outras vezes, não.
Certas coisas tem somente a razão de não ter?
Ou a gente acaba por desistir de encontrar razão?
Hoje fico em dúvida.
Às vezes, é mais fácil aceitar.
Deixar as coisas como estão.
Dá trabalho pensar, mudar, reconstruir, decidir, pensar...
Dá trabalho e a gente cansa rápido.
Então é melhor sempre deixar pra depois, pra amanhã, pra lá...
E fica assim.
Exatamente como está.
E o “como está” não me satisfaz.
Mas nada muda se a gente não mudar.
E não é mudar somente, é acreditar, concordar, escolher.
Sem mentir pra si mesmo, fingindo estar tudo bem quando não está.
Fingindo entender.
Fingindo...
Fingindo...
 E fingindo que não finge.
Eu finjo, às vezes.
Finjo que está tudo bem, pra ter forças, não desistir.
Dar forças, sorrir...
Mas é difícil demais.
E, às vezes, tenho que fingir.
E finjo que não finjo.
E acredito.
Pra quem sabe aguentar de verdade.
E nisso, descubro ser mais forte do que pensava.
Mas não gosto de deixar as coisas pra lá.
Não gosto de assuntos mal resolvidos, banhos de gato ou café pela metade.
Eu gosto de ser inteira.
Mesmo que isso custe algumas lágrimas.
A gente corre o risco...
Eu não gosto de fingir que nada acontece.
 Mas, às vezes, finjo...
Pra ter força, sabe?
Mas, às vezes, dói.
E não sei como fingir que não sinto.
Sou transparente demais...
 E fracote demais...
Pra não sentir...
Pra fingir demais...
Pra mentir por muito tempo.
Não consigo.
Não posso.
E não quero.
Prefiro falar a verdade.
Prefiro admitir fraqueza.
Admitir derrota.
Admitir lágrimas.
Que é pra doer um pouquinho menos.
Até que a dor vai passando...
E quase não dói.
E finjo que esqueci.
Que não existe.
Que passou.
Às vezes, funciona.
Às vezes, não.
Nada que não seja verdadeiro se sustenta por muito tempo.
 Nem o amor.
Ah, o amor...
Eu não sei falar de amor.
Já disse isso?!
O amor é complicado demais.
A vida é complicada demais.
E a gente finge ter o controle sobre as coisas.
Só que não dá.
Dá pra escolher.
Controlar não.
E escolher não é dominar ou controlar o assunto.
É só tentar.
Ver se dá certo.
E ver se o errado é o certo.
Ou o certo é o errado.
Só que não dá pra saber sem tentar.
Eu tô tentando ser feliz.
Mas acho que, às vezes, não dá.
Mas eu finjo que dá.
E acredito.
E às vezes, dá.
Às vezes, não.
E fico pensando: Certas coisas tem somente a razão de não ter...
E talvez seja só pra confundir a gente mesmo...
A gente fica pensando, tentando solucionar os problemas do mundo
E talvez não tenha jeito.
Ou talvez tenha.
Mas dá preguiça e cansa.
Dá trabalho.
É arriscado.
E nem sempre vale a pena.
Então a gente deixa pra lá...
E vai empurrando com a barriga...
E até quando dá pra aguentar?!