Eu não sei quando foi que eu desisti do amor que nunca existiu, além dos meus pensamentos, das minhas ilusões, das minhas "platonices"...
Só me dei conta agora.
Como uma ficha que caiu assim, do nada.
Como pensamentos sutis que assumiram em voz alta, sem que eu percebesse, o tamanho da minha covardia.
O medo do "não". O medo do "sim".
O medo de qualquer tipo de (não)correspondência.
O medo do próprio medo.
Ao olhar uma carta, já com data obsoleta, já com uma grafia em que eu nem me reconheço mais, mas com palavras que ainda fazem tanto sentido!... Outras tantas que já nem sei mais de onde foi que saíram.
Os dias passam... Os meses...Os anos... E ainda não caiu no esquecimento.
O idealização de um amor que talvez nunca tenha existido ainda permanece intacta.
Ou talvez seja somente a lembrança do que a carta dizia, se é que ela ainda existe.
Aguardando o seu destino, o toque suave das mãos que a receberiam, num dia frio de outubro ou novembro.
Se é que um dia chegaria mesmo a ser lida.
Talvez seu destino fosse mesmo nunca chegar ao destino proposto.
E eu guardo na lembrança, ou no lugar mais imperceptível possível, pra fingir que a convardia do envio se transformou em sensatez.
Até que ponto o respeito não interrompe o amor?
Até que ponto a cautela não é desculpa para a falta de coragem em ouvir uma resposta que vai, com certeza, machucar?
A gente prefere o benefício da dúvida em relação ao amor do que a certeza da sua não existência, pois obrigaria o esquecimento.
Impossível.
O que foi amor jamais deixará de ser.
Talvez eu prefira ficar com a certeza de um amor interrompido do que assumir, covardemente, a minha suposta certeza de não correspondência.
Talvez a coragem seja feita de concreto, que endurece quando se leva tempo demais pra sair do lugar.
Ou talvez as lembranças, as ilusões, as "platonices" sejam inevitáveis e essenciais pra construção do indivíduo.
Ou talvez tudo isso seja uma puta desculpa pra justificar a minha covardia mesmo.
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