Eu nunca pensei que fosse capaz de falar de amor.
Tantas coisas que eu nunca pensei que passariam pela minha cabeça hoje
pesam tanto!
Pesam do tamanho de uma lembrança, daquelas que a gente tenta esquecer
e já é tarde demais... Pesam como uma pessoa que insiste, por orgulho ou
teimosia, se afastar de nossas vidas, parecendo que nunca vai voltar.
Mas o mundo dá muitas voltas. E rápido demais.
Seria ingenuidade minha, talvez, acreditar ser capaz de ignorar tudo isso e viver em paz. A paz é inalcançável.
Seria ingenuidade minha, talvez, acreditar ser capaz de ignorar tudo isso e viver em paz. A paz é inalcançável.
Cheguei a essa conclusão numa madrugada dessas.
Há algum tempo já não as uso mais para dormir.
Estou pensando em desistir. Talvez as madrugadas, sejam lá por quem
tenham sido criadas, não tenham sido feitas com esse propósito. Desconfio que
nós, seres humanos, carentes e problemáticos, teimamos em ignorar as evidências
e tentamos usá-las pra suprir um cansaço que é físico. Fisicamente manifestado
pela nossa inquietação mental constante.
E isso cansa. E como cansa!
E eu canso o tempo todo.
Às vezes, imagino que sou capaz de desligar meus pensamentos, só por um
instante, só por uma piscada de 3 segundos, que é o máximo possível antes de
ser considerado um cochilo. Imagino que quando desligo esses pensamentos tenho
a chance de mudá-los de lugar dentro da minha cabeça, como uma cômoda com
muitas gavetas, em que, a cada vez, a cada piscada, o pensamento vai descendo
de gaveta até ficar na última, a mais difícil de abrir, a que esqueço que
existe vez ou outra.
Doce ilusão. Nem ao menos sou capaz de desligar-me dos meus pensamentos
e, ainda que fosse, seria ilusão ainda maior pensar que conseguiria evitar a
tal gaveta de baixo.
Acho que foi lá que eu guardei o tal do amor, com a minha estúpida
ingenuidade, novamente, de tentar esquecê-lo.
Se nem ao menos sou capaz de desligar os meus pensamentos, por 3
segundos que sejam, quem dirá esquecer um amor.
Não a ideia de amor que muitos pregam em felicidades manipuladas
socialmente. Não, é de outro amor que eu estou falando.
Um amor que, nos tempos de hoje, sou covarde em admitir. Parece piegas
demais!
Em tempos onde o “amor fast food” resplandece no “coração” das pessoas,
bate um constrangimento em admitir o amor e as fraquezas que o acompanham. As
pessoas se pintam tão mais fortes nisso do eu me vejo capaz.
Não sei onde está o equívoco, se na superficialidade do amor delas ou
na intensidade brega do meu.
O meu amor acelera meus batimentos cardíacos e desacelera a minha
respiração, cada vez que escuto sua voz, ou cada vez que te leio, direta ou
indiretamente, o que hoje é mais comum. Quando eu te vejo, então! Não sei se
respiro ou se concentro todas as minhas energias em disfarçar o amor que eu
sinto, que parece ser grande demais para qualquer ser humano aguentar. Acho que
te sufocaria. Então, sempre tento contê-lo.
Mais uma doce ilusão.
Não pense você que eu o escondo somente por covardia minha não. É
também. Mas muito mais pelo medo do sufocamento que posso lhe proporcionar. Por
medo da tua (não) correspondência. Pelo teu abandono. Pelas tuas palavras enfáticas
e aquelas não ditas que eu li nas entrelinhas, que me fizeram chegar a
conclusão de que o amor que eu sinto é mesmo impossível. Ou melhor, somente
possível pra mim, nos meus sonhos, na minha imaginação... Nas minhas doces
ilusões. Ou naqueles sonhos que escondo de você e não te conto, mas que são
recorrentes. Cada vez mais recorrentes.
Nos meus sonhos o dia é nublado e venta muito. Quase não consigo
diferenciar dia e noite. O frio é quase congelante. Eu tento te aquecer, mas
nunca sou capaz, pois o frio já tomou conta de mim também, por inteiro.
Eu acordo na esperança de que tudo seja só um sonho e que você esteja
ao meu lado, encostando o seu corpo quente ao meu e a sua respiração se
misturando a minha.
Mas isso nunca acontece. Isso nunca mais vai acontecer.
E meu sonho fica cada vez mais próximo da realidade, como se a cada vez
que ele viesse me visitar os planos, sonho e realidade, se invertessem e a
minha realidade fosse cada vez mais congelante, o ar cada vez mais rarefeito e
o meu coração cada vez mais apertado pela consciência da tua ausência, da tua
distância.
Abro a geladeira 1230 vezes, como se procurasse nela as respostas para
as minhas perguntas “madrugais”. Não encontro. Nem as respostas, nem nada que
me apeteça.
Li que doces liberam substâncias que simulam a felicidade. Comigo não
funciona. Acho até que parei de produzir essas tais substâncias. O meu cérebro
já não funciona mais como antes. Meus pensamentos parecem mais lerdos. Parecem
não sair do lugar. Parecem estar sempre no mesmo lugar. No mesmo pensamento.
Sempre em você. Por mais que eu queira evitar.
Você roubou de mim a minha paz. E levou com você todo o meu estoque de
substâncias da felicidade, todos os doces que tinham na minha geladeira.
belíssimo!
ResponderExcluirÉ com certeza tentador, principalmente para nós seres humanos, suprimir as vontades de nossos corpos, pois eles falam, ao menos sussurram em nossos ouvidos,diria que o amor é inexplicável, mas o ato de amar e não ser amado é como admirar uma flor, ter sentido seu cheiro, porém não poder possuí-la. Mas algo 'bom' que fica é a lembrança...