segunda-feira, 4 de abril de 2016

CAPÍTULO UM - (de um livro que nunca terá continuação, mas que ainda faz sentido)


Eu nunca pensei que fosse capaz de falar de amor.
Tantas coisas que eu nunca pensei que passariam pela minha cabeça hoje pesam tanto!
Pesam do tamanho de uma lembrança, daquelas que a gente tenta esquecer e já é tarde demais... Pesam como uma pessoa que insiste, por orgulho ou teimosia, se afastar de nossas vidas, parecendo que nunca vai voltar.
Mas o mundo dá muitas voltas. E rápido demais.
Seria ingenuidade minha, talvez, acreditar ser capaz de ignorar tudo isso e viver em paz. A paz é inalcançável.  
Cheguei a essa conclusão numa madrugada dessas.
Há algum tempo já não as uso mais para dormir.
Estou pensando em desistir. Talvez as madrugadas, sejam lá por quem tenham sido criadas, não tenham sido feitas com esse propósito. Desconfio que nós, seres humanos, carentes e problemáticos, teimamos em ignorar as evidências e tentamos usá-las pra suprir um cansaço que é físico. Fisicamente manifestado pela nossa inquietação mental constante.
E isso cansa. E como cansa!
E eu canso o tempo todo.
Às vezes, imagino que sou capaz de desligar meus pensamentos, só por um instante, só por uma piscada de 3 segundos, que é o máximo possível antes de ser considerado um cochilo. Imagino que quando desligo esses pensamentos tenho a chance de mudá-los de lugar dentro da minha cabeça, como uma cômoda com muitas gavetas, em que, a cada vez, a cada piscada, o pensamento vai descendo de gaveta até ficar na última, a mais difícil de abrir, a que esqueço que existe vez ou outra.
Doce ilusão. Nem ao menos sou capaz de desligar-me dos meus pensamentos e, ainda que fosse, seria ilusão ainda maior pensar que conseguiria evitar a tal gaveta de baixo.
Acho que foi lá que eu guardei o tal do amor, com a minha estúpida ingenuidade, novamente, de tentar esquecê-lo.
Se nem ao menos sou capaz de desligar os meus pensamentos, por 3 segundos que sejam, quem dirá esquecer um amor.
Não a ideia de amor que muitos pregam em felicidades manipuladas socialmente. Não, é de outro amor que eu estou falando.
Um amor que, nos tempos de hoje, sou covarde em admitir. Parece piegas demais!
Em tempos onde o “amor fast food” resplandece no “coração” das pessoas, bate um constrangimento em admitir o amor e as fraquezas que o acompanham. As pessoas se pintam tão mais fortes nisso do eu me vejo capaz.
Não sei onde está o equívoco, se na superficialidade do amor delas ou na intensidade brega do meu.
O meu amor acelera meus batimentos cardíacos e desacelera a minha respiração, cada vez que escuto sua voz, ou cada vez que te leio, direta ou indiretamente, o que hoje é mais comum. Quando eu te vejo, então! Não sei se respiro ou se concentro todas as minhas energias em disfarçar o amor que eu sinto, que parece ser grande demais para qualquer ser humano aguentar. Acho que te sufocaria. Então, sempre tento contê-lo.
Mais uma doce ilusão.
Não pense você que eu o escondo somente por covardia minha não. É também. Mas muito mais pelo medo do sufocamento que posso lhe proporcionar. Por medo da tua (não) correspondência. Pelo teu abandono. Pelas tuas palavras enfáticas e aquelas não ditas que eu li nas entrelinhas, que me fizeram chegar a conclusão de que o amor que eu sinto é mesmo impossível. Ou melhor, somente possível pra mim, nos meus sonhos, na minha imaginação... Nas minhas doces ilusões. Ou naqueles sonhos que escondo de você e não te conto, mas que são recorrentes. Cada vez mais recorrentes.
Nos meus sonhos o dia é nublado e venta muito. Quase não consigo diferenciar dia e noite. O frio é quase congelante. Eu tento te aquecer, mas nunca sou capaz, pois o frio já tomou conta de mim também, por inteiro.
Eu acordo na esperança de que tudo seja só um sonho e que você esteja ao meu lado, encostando o seu corpo quente ao meu e a sua respiração se misturando a minha.
Mas isso nunca acontece. Isso nunca mais vai acontecer.
E meu sonho fica cada vez mais próximo da realidade, como se a cada vez que ele viesse me visitar os planos, sonho e realidade, se invertessem e a minha realidade fosse cada vez mais congelante, o ar cada vez mais rarefeito e o meu coração cada vez mais apertado pela consciência da tua ausência, da tua distância.
Abro a geladeira 1230 vezes, como se procurasse nela as respostas para as minhas perguntas “madrugais”. Não encontro. Nem as respostas, nem nada que me apeteça.
Li que doces liberam substâncias que simulam a felicidade. Comigo não funciona. Acho até que parei de produzir essas tais substâncias. O meu cérebro já não funciona mais como antes. Meus pensamentos parecem mais lerdos. Parecem não sair do lugar. Parecem estar sempre no mesmo lugar. No mesmo pensamento. Sempre em você. Por mais que eu queira evitar.

Você roubou de mim a minha paz. E levou com você todo o meu estoque de substâncias da felicidade, todos os doces que tinham na minha geladeira.



Um comentário:

  1. belíssimo!


    É com certeza tentador, principalmente para nós seres humanos, suprimir as vontades de nossos corpos, pois eles falam, ao menos sussurram em nossos ouvidos,diria que o amor é inexplicável, mas o ato de amar e não ser amado é como admirar uma flor, ter sentido seu cheiro, porém não poder possuí-la. Mas algo 'bom' que fica é a lembrança...

    ResponderExcluir