Eu sou o que eu vivo.
Ou pelo menos o que escolhi viver,
Mesmo sem nem sempre entender.
Apenas sou.
Não minto. Apenas sinto.
Só pergunte o que realmente quiser saber,
Porque com sinceridade eu vou dizer
A minha verdade.
Porque a verdade é um mero ponto de vista, é relativa.
E eu escolho sentir ou ao invés de definir.
Sentimentos não são fáceis de nomear mesmo.
Sentir impede que a gente pense demais e desista,
Proíba coisas que só fazem bem.
Quando a gente pensa demais começa a julgar a si mesmo e condenar por
pecados que não foram cometidos, ou que nem existem.
Fomos feitos com uma imaginação muito fértil
E a gente tende a usá-la de forma negativa, para imaginar coisas sem
sentido
Ao invés de imaginar desenhos nas nuvens, notas musicais saindo da
fumaça dos carros
Ou movimentos com o corpo, que está sempre comprimido pelo cotidiano.
Por que não usar a imaginação para agradar a si mesmo, para sonhar?
A gente teima também em proibir os sonhos
Com a desculpa que eles não levam a lugar algum.
Devíamos proibir os pesadelos, não os sonhos.
E eu sonho muito. O tempo todo.
Acho que minha imaginação gosta tanto de brincar comigo que me força a
dormir cedo demais,
Coloca bigornas em minhas pálpebras e distancia as palavras que ouço,
os filmes que assisto e eu durmo, profundamente.
Acho que minha imaginação gosta de brincar com as minhas emoções
E cria desenhos animados em balões de pensamentos, o tempo inteiro.
E eu crio sonhos, que se confundem com a realidade e eu já não sei mais
se é sonho ou lembrança.
Lembrança.
Eu não me lembro bem das coisas. Não lembro bem da minha infância, nem
de livros que li, nem de nomes.
Mas lembro de sentimentos e sei perceber se algo me fez bem ou mal.
E minhas lembranças são sentimentos em meu coração.
E meus sonhos são em quadrinhos ou desenhos animados, sem rostos.
E, às vezes, com música de fundo.
E eu acordo ouvindo uma canção.
Ou simplesmente percebo que já estou acordada há tempos, e sou eu que
estou cantando, bem alto, para externar euforias reprimidas.
E sou movida a sons.
E tudo é música.
E tudo vira música.
E outros cantam pra mim, sentimentos que não sei explicar.
E que só depois eu entendo.
E eu canto também aqueles que já sei entender.
Ou não. E só sinto.
A melodia se faz no silêncio e de uma só vez. Com letra e tudo.
Como se ela já existisse em mim e eu só cuspo.
E percebo que faz todo sentido do mundo.
E o que faz sentido?
Não sei se acredito em destino.
Não acredito em Deus.
Pelo menos, não na ideia convencional de Deus.
Pra mim, Deus é tudo aquilo que o homem não é capaz de criar, por mais
que imite.
Como as flores, as árvores, o vento ou o amor.
E chamo de Deus porque ainda não dei outro nome.
Gosto de dar nomes as coisas que são importantes para mim.
Gosto de associar cores também.
E acho que “Deus” não tem culpa ou responsabilidade de nada.
Mas quando a culpa é nossa a gente põe em quem quiser, não é mesmo?!
Nós é que fazemos nosso próprio destino.
Se queremos algo, só depende de nós mesmos.
É bem mais fácil ter a quem culpar e dizer: “Deus quis assim.” Ou “É
obra do destino”.
É difícil assumir e dizer: “Não aconteceu porque eu falhei.” Ou “Não
aconteceu porque eu não quis ou me empenhei pra isso.”
E a diferença entre empenho e esforço é que empenho vale a pena, porque
algo recebe em troca, como uma medalha.
O esforço é vazio. Acompanhado de reclamações.
E a gente tende a reclamar das coisas mesmo.
Parece que para justificar o que a gente não quer admitir.
E é difícil admitir mesmo.
É preciso coragem.
E coragem não é uma bala que você engole e fica gigante.
Mas uma manivela enferrujada que é difícil demais de girar,
Mas que quando gira, tudo funciona.
Só é preciso um pouco de força e não desistir.
E a gente tende a evitar o que é difícil.
Talvez para não ter que assumir o “não consigo”.
E o “não consigo” é só o “desisto de tentar”.
O impossível é só aquilo que a gente ainda não descobriu.
E todos os dias eu descubro que cada dia é único.
E tenho quebrado preconceitos meus em relação à rotina.
E desconfio que ela não exista.
Mas pra isso, é preciso prestar atenção nos detalhes.
E não guardar rancores.
E espalhar amores.
Porque amor e carinho a gente dá.
Não cobra, não esconde.
Quanto mais a gente dá, mais a gente tem.
Por que economizar uma coisa que só faz bem pra gente mesmo?!
E meu amor é grande o suficiente para dar em doses diárias de carinho.
E acho que não dá pra escolher, a gente pode tentar, mas acho que deixa
de ser sincero.
Tem que ser espontâneo.
Por que negar um “Eu te amo”... “Você me faz bem”... “Eu gosto de você
pra caralho”...?!
Um cafuné ou abraço apertado faz toda a diferença num dia ruim.
Um ouvido disposto, um olhar afetuoso e um toque carinhoso.
Por que é errado dar amor?
Ou por que falta coragem para dar amor?
Acho que os dias seriam melhores se palavras doces tocassem nossos
ouvidos pela manhã e antes de dormir.
E a gente não escolhe quem amar. A gente só ama.
A gente pode fingir que não vê, mas o amor tá ali...
Num suspiro, num coração acelerado, numa bochecha enrubescida ou num
olhar desviado.
Ou simplesmente carinho.
E gente não pode TER amor. A gente não pode possuir algo que é Deus.
Ninguém possui Deus.
Ele apenas existe.
E o amor, pra mim é Deus.
E eu não possuo. Só posso sentir.
E não há quem possua algo que não é meu.
Eu mesma não sou minha, quanto mais de alguém.
Eu só cuido de um corpo que habito.
E tenho a liberdade de fazer dele o que achar melhor.
E prezo por essa liberdade que se fez em mim, a ponto dela ter tanta
importância quanto os sonhos.
É ela que me move. É ela que me guia. Que me faz ficar.
Porque sei que a escolha é sempre minha.
E por ser livre só escolho o que quero.
Não minto.
Nem pra mim mesma.
Às vezes, num impulso humano, não olho para as coisas que sinto,
Finjo que elas não existem.
Mas eu não posso me esconder de mim mesma o tempo todo.
Um hora ou outra eu sempre me acho.
E amar é deixar livre.
Livre para ir e livre para voltar.
E deixar a porta sempre aberta, sem julgar ou punir.
Porque no fim das contas a gente só colhe o que planta mesmo.
E hoje, eu escolhi plantar o amor.
E deixar a porta sempre aberta,
Regando um jardim de flores que eu não quero que seque.
Não quero que as flores morram.
Assim como não quero que os sonhos morram.
Eu preciso deles para respirar, para compor, para ocupar minha
imaginação tão fértil.
E eu olho o sol, o vento fazendo as árvores dançarem e sinto o amor dentro
de mim.
E sorrio ao me encontrar com Deus.
E não o considero injusto e nem acho que vá me castigar por
desobedecê-lo.
O “meu” Deus não é assim.
Apenas contemplo o “bom dia” que recebo e amor
Que me é dado a cada respiração do vento em meu rosto.
A cada sensação em meu corpo.
A cada batida do meu coração, que insiste em pular e fazer firulas no
meu peito.
A cada sonho bom.
E a cada momento que se foi e deixo livre para voltar.
E a felicidade está ali, exatamente nos detalhes.
E como é bom abrir o olhar para os detalhes!
Ele revelam.
Me revelam.
Os outros.
Os outros em mim.
Por que ficar se remoendo de tristeza quando se tem lembranças, sonhos
e imaginação?!
Ainda mais quando se tem imaginação...
A gente tem, exatamente, o que conquista.
E conquista, aquilo que busca.
E busca aquilo que quer.
E quer o que faz bem.
E o que faz bem é o que traz sorriso.
E sorri, quando encontra a felicidade.
E a felicidade está nos detalhes.
É só olhar, pra ver.
E tudo é uma escolha.
E eu escolhi olhar.