Eu não tenho memória, mas tenho uma agenda.
Tenho anotações, datas, compromissos, e nas entrelinhas... Desabafo.
Escrevo o que me esforço pra lembrar.
Ou o que não quero esquecer.
Escrevo esperando que ninguém vá ler.
Escrevo mostrando tudo o que eu quero esconder.
Escrevo o que ainda não admiti em voz alta,
Mas o papel denuncia.
E é impossível esconder de mim mesma por muito tempo.
Tento esconder, fingir que não vejo...
Mas os pensamentos estão lá, o tempo todo...
Lacrados com fita crepe na boca.
Mas isso não é suficiente para sufocá-los... Para silenciá-los...
Meus pensamentos não adormecem...
E preenchem minha memória usando um martelo, que dá muita dor de
cabeça.
Não sobra espaço pra mais nada.
Minha memória se apaga.
Parece que formatei a HD.
Mas está tudo lá, sou eu que não vejo.
Ou finjo pra mim mesma que não vejo.
Escrevo, talvez, para tirar o que não sai da cabeça.
Mas não adianta. Não some.
Mas escrevo.
Como se tudo fosse bem claro.
E releio.
E é tudo confusão.
E guardo segredos.
Os guardo na ponta do lápis.
Estão seguros.
Já não são mais meus.
Mas estão seguros.
Pois ninguém vai ler algo que só tem valor pra mim.
Algo que ainda estou tentando entender.
Faço desenhos na capa.
Anoto o dia do dentista.
Escrevo com letra feia.
Rabisco.
Que pros olhos curiosos,
Nada entendem.
Perdem logo o interesse. E se dissipam.
E meus segredos permanecem intactos... Seguros...
Guardados nas entrelinhas... Imobilizados com fita crepe...
Mergulhados em palavras mudas de covardia.
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